Bonequinha de Luxo

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Loira, ruiva ou morena: a força do cabelo feminino no cinema

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Rita Hayworth

“Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... Uma ninfa!” (Dom Casmurro – Machado de Assis)

O tema sobre cabelos femininos: “Loira, ruiva ou morena: a força do cabelo feminino no cinema” evoca atrizes de cinema, cuja cabeleira transformou-se em um ícone da moda, levando as tendências para a sociedade, no século XX. O apego da mulher aos cabelos já foi retratado nas artes em geral, na moda, no cinema e na publicidade. Na mitologia grega também temos a figura mitológica de Medusa, cujos cabelos deste mito diabólico contêm poderes sobrenaturais. Segundo o poeta romano Ovídio, as madeixas deste monstro foram um castigo da deusa Atena, que não gostou nada da transa (forçada) de Medusa e Poseidon em seu templo. A medusa também tem o perfil da mulher traiçoeira.

 

 

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A cabeça de Medusa - obra de Peter Pauwel Rubens

 

 

A obra cinematográfica quanto mais universal for a sua mensagem, maior será a possibilidade de ser compreendida e aceita pelo espectador. Mas, o figurino e os cabelos também contribuem para o sucesso porque lança moda. Os cabelos no cinema tem uma função de promover significados, ainda que imaginários, entre o ator e o espectador.

A estrela determina as múltiplas personagens dos filmes, encarna nelas e transcende-as, segundo Edgard Morin. Mas, estas transcendem-na por sua vez, as suas qualidades excepcionais e refletem-se nas estrelas. Os atores de composição não são estrelas, prestam-se às personagens mais heterogéneas, mas sem lhes impor uma personalidade unificadora. Nem todos os heróis são necessariamente encarnados por estrelas. As estrelas situam-se por vezes a nível mítico tão elevado que absorvem sem reciprocidade os seus intérpretes, há uma absorção do ator pela personagem. (Morin, 1972, p. 34)

 

 

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Atriz Rebeca Romijin

Segundo Morin, um mito é um conjunto de condutas e de situações imaginárias que ele descreve para as suas estrelas. Quando se fala do mito da estrela trata-se em primeiro lugar do processo de divinização a que o ator de cinema é submetido e que faz dele ídolo das multidões. (Morin, 1972, p. 35)

 

 

Mae West: a loira à frente de seu tempo

 

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Atriz Mae West

A atriz Mae West tinha apenas 1,55 de altura e uma incrível capacidade de arranjar fãs e encrencas. A atriz fez apenas 12 filmes e, à frente de seu tempo, fez piada de uma sociedade moralista e trouxe à tona o assunto do sexo. Nasceu em Nova York, em 1893 e iniciou a sua carreira ainda criança no vaudeville. Estudou dança e mesmo trabalhando encontrou tempo para escrever seus próprios roteiros teatrais, incluindo “Sex”, pelo qual passou 10 dias presa por obscenidade, em 1926.

Mae foi contratada como atriz em Hollywood e escreveu roteiros de filmes baseados em suas peças de teatro. Mas, foi perseguida pela censura no cinema (usava muitos palavrões) e quando morreu aos 87 anos deixou a seguinte frase: “Garotas boas vão para o paraíso; garotas más vão para todos os outros lugares”. (Menda, 2009, p.15)

 

 

A morena Cyd Charisse: nascida para dançar

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Cyd Charisse

A morena e charmosa atriz, de longas pernas protegidas no auge da carreira por um seguro de 5 milhões de dólares, Cyd Charisse adotou o apelido de infância Cyd e o sobrenome do marido, Nico Charisse, que foi seu professor de balé.

Em 1952 filmou “Cantando na Chuva” ao lado de Gene Kelly e fez muito sucesso em Hollywood. Mas, a sua carreira entrou em declínio nos anos 60, quando a febre dos musicais esfriou, então, ela fez papéis dramáticos no cinema e trabalhou na televisão e também em shows. Morreu em 2008, em Los Angeles, vítima de ataque cardíaco. (Menda, 2009, p. 26)

 

 

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Cyd Charisse e Gene Kelly - cena do filme Dançando na Chuva (1963)

Joan Crawford: “Se você quer ser uma estrela, você deve parecer uma estrela...”

 

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Joan Crawford

Joan Crawford chamava-se Lucille Fay LeSueur e nasceu no Texas, em 1905. Ela foi contratada pela MGM e lá ficou por 18 anos e adotou o nome artístico de Joan Crawford. Com a chegada do cinema sonoro em Hollywood favoreceu-a mostrando a sua voz poderosa.

A atriz era arquirrival de Bette Davis, a quem detestava e ninguém sabe o motivo da inimizade entre as duas atrizes. Certa vez, Bette acusou-a de ir para a cama “com todos os homens da MGM...”. (Menda, 2009, p.34)

Joan casou-se cinco vezes, adotou quatro crianças e foi pivô de pelo menos dois divórcios. Depois, retirou-se totalmente da vida pública em 1974, dedicando-se à religião e à vodca. Morreu em 1977.

 

 

Rita Hayworth: “Todos os homens que conheci se apaixonaram por Gilda, mas acordavam comigo...”

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Rita Hayworth

Margarita Carmen Cansino tinha o nome de origem espanhola e nasceu em Nova York, em 1918, em uma família de bailarinos. Um executivo da Fox viu-a dançando e contratou a atriz e bailarina. Depois de passar por vários estúdios, o cinema descobriu o seu carisma ao realizar uma parceria de Rita com Fred Astaire, no filme “You´ll Never Get Rich” (1941). Mas, seu maior sucesso foi o filme “Gilda” (1946) e depois o filme “Salomé” (1953) e só voltou às telas quatro anos depois. A atriz foi a pin-up preferida dos soldados americanos na Segunda Guerra Mundial.

A atriz casou cinco vezes e teve duas filhas. E a partir de 1960, ela começou a apresentar os sintomas da doença de Alzheimer, que só foi diagnosticada 20 anos depois. Rita morreu em 1987, em Nova York, aos 68 anos.

 

 

Ava Gardner: “Quando perco a paciência, querido, você não a encontra em lugar nenhum.”

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Ava Gardner

Ava Gardner (1922-1990) era a caçula de uma família de humildes plantadores de tabaco da Carolina do Norte. Com 18 anos, sua foto na janela do estúdio do cunhado fotógrafo em Nova York chamou a atenção da MGM, levando-a rapidamente para Hollywood.

Até 1945, ela fez uma série de filmes que apostavam em sua beleza. A empresa cinematográfica usava a sua popularidade para vender filmes medíocres nos 17 anos em que a manteve sob contrato, por isso é provável que Ava jamais tenha acreditado no próprio potencial como atriz. Esse potencial só seria revelado na década de 50, quando foi dirigida por bons diretores como John Ford.

A atriz casou três vezes com Mickey Rooney, Artie Shaw e Frank Sinatra, que a manteve nas manchetes da imprensa sensacionalista.

Ava foi morar na Espanha e em 1964 transferiu-se para Londres onde viveu 22 anos e morreu em 1990, depois de dois acidentes vasculares que a imobilizaram na cama. Um museu em Smithfield, na Carolina do Norte, guarda objetos e recordações de sua carreira. (Menda, 2009, p. 58)

 

 

Kim Novak: paixão ardente e oculta

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Kim Novak

Marilyn Pauline Novak, filha de pais professores, nasceu em Chicago em 1933. Ela foi descoberta por um caçador de talentos que a levou para Hollywood.

Casou-se duas vezes e ainda permanece com o segundo marido, um veterinário.

A atriz trabalhou com o diretor britânico Alfred Hitchcock que desejava a integração do figurino na ação e para tanto, fazia muitas exigências de sua equipe de trabalho e também dos atores. O diretor realizava um planejamento muito cuidadoso, até mesmo a cor do carro que poderia atravessar uma cena combinando com a roupa da atriz principal.

A indumentária devia consistir num contraste entre uma aparência imperturbável e uma paixão ardente e oculta. O mestre do suspense tinha verdadeira obsessão pelas loiras.

No filme perturbador, Vertigo: um corpo que cai (1958), os cabelos aparecem num contexto de distúrbio de personalidade de Madeleine (Kim Novak).

 

 

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Kim Novak

As estrelas aqui em destaque, loiras, ruivas ou morenas são arquétipos da beleza feminina refletida no cinema.

A simbologia dos cabelos é extensa, mas no sentido geral, os cabelos são uma manifestação energética. Quanto às cores, castanhos ou negros possuem o sentido de energia escura, terrestre; dourados identificam-se com os raios do sol e com todo o vasto simbolismo solar; os cabelos avermelhados têm caráter venusiano e demoníaco, segundo o dicionário de símbolos. (Cirlot, 2005, p. 131)

Para a Psicanálise, a fragmentação do corpo, neste caso os cabelos simboliza a promoção imaginária da fantasia, que é a procura do prazer original vinculado às primeiras necessidades do corpo. (Barthes, 2005, p. 118)

 

 

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Jodie Foster

No cinema, a cabeleira promove uma empatia entre o ator e o espectador e surgem vários significados como beleza, força ou ligada aos poderes sobrenaturais. Os cabelos frisados, ondulados, despenteados, presos em coques altos ou deixando os cachos emoldurar o rosto, todos os tipos exigem os cuidados que todas as mulheres devem respeitar diariamente.

Os perfis biográficos destas atrizes de grande beleza marcaram o cenário das artes cinematográficas desde o início do século XX e muitas delas permanecem no imaginário do grande público, com suas histórias de vida e sucesso.

 

Rosângela D. Canassa

 

 

Referência bibliográfica:

CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de símbolos. São Paulo: Centauro, 2005.

MENDA, Mari Elizabeth. Pernas admiráveis, passos inesquecíveis. São Paulo: Leitura Médica, 2009.

MORIN, Edgard. As estrelas de cinema. Lisboa: Livros Horizonte, 1972.

Imagens e poema/site consultado:

www.google.com.br

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