Bonequinha de Luxo

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sábado, 21 de janeiro de 2012

A MODA DA REALEZA NO FILME “MARIA ANTONIETA”: OS ESPARTILHOS E O FIGURINO

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Ao longo da história, a moda tem influenciado o cinema, Mas, hoje em dia, a moda está muito presente. Então a moda influencia o cinema e é uma troca contínua”.

(Milena Canonero, costume designer)

 

O filme Maria Antonieta (2006), dirigido por Sofia Coppola se baseou no livro de Antonia Fraser (1932), sobre a Rainha Maria Antonieta (1755-1793). Biógrafa e escritora, Fraser é a segunda esposa do dramaturgo Harold Pinter.

O filme conta a história de uma garota austríaca, de 14 anos, que vai para o palácio de Versalles, na França para virar a Rainha, como esposa de Luís XVI. A primeira cena já fornece uma dica interessante que, no meio do caminho, ela precisa trocar de roupa para pôr uma veste mais adequada à sua nova situação social. Na verdade, Maria Antonieta é uma estrangeira que chega num novo lar, longe de casa e acaba sentindo-se muito sozinha, apesar de estar sempre acompanhada de seu staff de fofoqueiros e de um marido insosso e ausente. Neste caso, não foram felizes para sempre. A consequência deste casamento é que a rainha, imersa na solidão, se acaba nos doces, em plena realeza francesa e sem conseguir gerar um herdeiro.

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A solidão de Maria Antonieta (Kirsten Dunst)

 

Neste falso corpo de heroína, com lindos vestidos e plumas, engana quem a vê exuberante. As roupas luxuosas são de tecido francês, mas que encobre o corpo de uma rainha solitária. A partir daí, ela  se cobre de joias, adereços, perucas espalhafatosas, bem no estilo do rococó.

No filme, o marido demorou muito para consumar o casamento com a rainha, o que poderia provocar a anulação do casamento, caso nada fosse feito.

 

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Figurino de Milena Canonero

O filme recebeu o Oscar de melhor figurino, assinado por Milena Canonero, uma das mais importantes costume designers dos EUA.

 

 

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A rainha bela e solitária

 

O vestuário e acessórios são baseados nas cores de rosa, azul, verde e amarelo. Tons pálidos como a vida desta personagem. Os vestidos cobrem várias camadas de saiotes para dar volume ao vestido, juntando-se com o espartilho, que aperta e oculta o seu corpo jovem.

Segundo pesquisadores, Maria Antonieta não usava maquiagem e também não passava tintura nos cabelos, naturalmente loiros, que dá o tom do fim do século XVIII. (Faux, 2000, p. 62)

 

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Maria Antonieta não pintava os cabelos

A Belle Époque na França e o espartilho:

cintura fina!

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Vestido da Belle Époque

 

 

O período de 1895 a 1914, mais conhecido como a Belle Époque na França distinguia-se pelo esplendor e opulência. Embora surgida como um incontestável modismo, a Belle Époque se banhava na nostalgia. A bela época em francês foi um período dourado para a classe alta, o que se refletiu em moda e estilos exclusivos de uma minoria. As mulheres vestiam roupas luxuosas e românticas, com silhueta em forma de “S”, moldada com o apoio de espartilhos.

 

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O espartilho sinônimo de sofrimento

 

A Belle Époque assistiu o triunfo da mulher-flor, cingida num espartilho que apertava a cintura ressaltando seios e nádegas (...) Os chapéus usados eram símbolos de status social, só as operárias saíam de “cabeça descoberta”. (Faux, 2000, p. 84)

 

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Maria Antonieta e e a moda dos chapéus

O efeito peito-de-pombo!

 

O peito de tal forma mais parecia uma prateleira, considerando os laços, flores, renda, tudo muito exagerado. Mas era a moda do momento.

 

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Maria Antonieta e o peito pomba

Diferenciando-se de suas predecessoras vitorianas por uma silhueta relativamente estreita e estatura física maior, a mulher eduardiana exibia o busto “peito-de-pombo”, com quadris empinados para trás, criando uma acentuada curva em “S”. (Mackenzie, 2010, p. 66)

Na “Revista Doméstica das Mulheres Inglesas” incitava-se a repressão dos quadris: “Se quer que uma rapariga cresça amável e feminina, nas suas maneiras e sentimentos... ate-a fortemente”. (Faux, 2000, p. 85)

 

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Mulher inglesa e o espartilho

Segundo a autora, os excessos do espartilho, sobretudo na Inglaterra, causaram muita dor. Os desmaios descritos na literatura da época são da responsabilidade de uma peça de vestuário que, apertada em excesso, mal deixava espaço para respirar, quanto mais para os movimentos.

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O espartilho impedia os movimentos

 

Algumas mulheres ajustavam-no tanto que acabavam com feridas debaixo do braço, porque a peça afinava o torso feminino, acentuava a cintura, levantava o peito e causava deformações na estrutura óssea. Já no século XIX e nas primeiras décadas do século XX, os espartilhos viveram o seu apogeu chegando a ser quase tão indispensáveis como os sapatos.

 

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Coleção de sapatos no filme Maria Antonieta

Nessa época, usavam-se muito as anquinhas, na França. Era uma armação de pano sustentada por barbatanas para enchê-las. Consumiram-nas tanto que se criou uma companhia baleeira na costa do Estado francês.

 

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Napoleão Bonaparte usava espartilho

 

O espartilho impôs-se a tal ponto e eram tais os apertos em que as mulheres se viam submetidas, que Napoleão deixou para história, entre o seu repertório, a seguinte frase: “O espartilho é o assassino da raça humana”, talvez enquanto metia mão, entre os botões da camisa para soltar um pouco o seu.

Com a Revolução Francesa (1789) influenciada pelos ideais iluministas e da independência norte-americana é considerada o berço do feminismo moderno. E um avanço se deu no vestiário e os espartilhos se tornaram menos rígidos e mais flexíveis, no século XVIII. (Nazareth, 2007, p. 28)

Nas fábricas proibia-se o uso do espartilho pelas trabalhadoras. As sufragistas (mulheres à favor do direito do voto feminino) advogaram também a abolição desta peça e pouco a pouco, o seu uso, antes quase universal foi desaparecendo.

 

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Mulher de Corselet – Toulouse-Lautrec (1896)

 

A queda definitiva do espartilho só foi possível por uma questão prática, com a chega da Primeira Guerra Mundial, as mulheres tiveram de substituir seus maridos na linha de produção das fábricas, uma vez que os homens estavam nos campos de batalha. Trabalhar usando espartilho, durante 13 horas por dias, inclusive aos domingos, provou ser uma tarefa impossível. A contratação de operárias acabou reduzindo o número de empregadas domésticas, o que provocou a mudança de hábitos também na alta sociedade. As damas burguesas abandonaram a lingerie porque não tinham quem amarrasse o espartilho nas costas.

 

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Espartilho com botões

 

Mas, as damas que buscam a beleza do corpo hoje sabem que o espartilho nunca saiu de moda.

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Beyoncé e o espartilho revisitado

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Cartaz do filme “Maria Antonieta” na versão de 1938

Referência bibliográfica:

1) FAUX, Dorothy Schefer. Beleza do Século. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000.

2) MACKENZIE, Mairi. ...Ismos para entender a moda. São Paulo: Globo, 2010.

3) NAZARETH, Otávio. Intimidade Revelada. São Paulo: Estúdio Substância: Olhares Editora, 2007.

Ficha técnica do filme:

Título: Maria Antonieta

Roteiro/direção: Sofia Coppola

Ano: 2006

Gênero: drama

Paises: França, Japão e EUA

Figurino: Milena Canonero

Elenco: Kirsten Dunst, Jason Schwartzman, Steve Coogan, Judy Davis e Asia Argento.

Imagens/livro:

MACKENZIE, Mairi. ...Ismos para entender a moda. São Paulo: Globo, 2010.

LANDIS, Deborah N. Dressed: a century of Hollywood costume designer. N. York, 2007.

Site consultado:

www.google.com

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Estrelas que marcaram época com seu talento e figurino

O cinema e a moda constituem linguagens que, como disse o diretor Win Wenders no filme Identidade de nós mesmos (1989), trabalham com a relação entre imagem e a identidade visual da imagem em movimento e a identidade corpórea da vida cotidiana.

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Louise Brooks

A vestimenta produz sentidos, que muitas vezes “fala” pelo personagem. O figurino torna-se uma narrativa visual e envia mensagens, portanto, o figurino é um elemento de comunicação não-verbal.

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Gloria Swanson

 

A importância da investigação deste tema da representação do figurino no cinema e a moda visam o entendimento da dimensão da linguagem cinematográfica, do astro e da estrela e sua influência no imaginário coletivo.

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Lauren Bacall

 

 

A atriz nos bastidores de Bonequinha de Luxo (1961) interpreta uma garota de programa decidida a se casar com um milionário. A estrela veste um dos figurinos do filme desenhado pelo estilista francês Hubert de Givenchy. (Revista Bravo, 2010, p. 27)

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Audrey Repburn, ícone fashion

 

O figurino do personagem no cinema e a roupa da pessoa anônima tornaram-se objeto comunicativo não-verbal, porque o sujeito masculino ou feminino, não tem status visual separado da roupa e/ou adorno. Roupas e outros tipos de ornamentações fazem com que o corpo se torne um mecanismo de identidade.

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Marilyn Monroe

A imagem corporal feminina disseminada no cinema e na moda fomentou na criação de um mecanismo de identidade pessoal e visual que a mulher tem de si mesma e que foi formada pela inter-relação destes instrumentos de comunicação.

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Jane Fonda

 

Brigitte Bardot nos bastidores do filme Ao Cair da Noite (1958) do cineasta francês Roger Vadim, com quem foi casada no período de 1952 a 1957. Ela influenciou uma geração e ditou moda pelo mundo todo. Camisetas pretas, vestidos decotados, a nudez em filmes e com biquíni, a tornou famosa. (Bravo, 2010, p. 32)

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Brigitte Bardot

 

 

A atriz francesa Catherine Deneuve alcançou a plenitude artística, segundo a revista BRAVO, com o filme Repulsa ao Sexo (1965). No thiller psicológico do franco-polonês Roman Polanski, ela vive uma jovem perturbada e reprimida, num filme que capta com perfeição o espírito da época pré-revolução sexual. (Bravo, 2010, p. 40)

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Catherine Deneuve

 

 

Claudia Cardinale, em sua extensa carreira, com cerca de 50 filmes, a atriz brindou a sétima arte com sua beleza e charme, como no filme Era uma vez no Oeste (1968), de Sergio Leone. (Bravo, 2010, p. 46)

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Claudia Cardinale

 

 

Em tempos de cultura pop, astros de cinema deixaram de ser apenas ícones de suas épocas reproduzidas em diferentes mídias.

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Madonna

 

As atrizes e estrelas aqui apresentadas encarnaram personagens nas telas que transcenderam época e temos ainda a diva Gaga que nos surpreende nos dias atuais.

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Lady Gaga

 

Referência bibliográfica: Revista Bravo – retrato do artista do cinema, São Paulo: Ed. Abril, 2010.

domingo, 1 de janeiro de 2012

O ESTILISTA ALCEU PENNA: O DESCOBRIDOR DA MULHER MODERNA BRASILEIRA

(DÉCADAS DE 40 E 50)

 

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Figurino inspirado na ópera Carmem de Bizet (Alceu Penna)

 

 

Alceu Penna nasceu no dia 10 de janeiro de 1915, em Curvelo (Minas Gerais), mas logo se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu até a sua morte em 1980.

Ele foi o primeiro grande estilista de moda brasileira e desenhava as suas garotas com penteados, roupas e atitudes que eram imitadas por quase todas as mulheres na década de 50. As suas roupas tinham saia rodada, babados, cintura marcada que era o estilo típico dos anos 50 e que também lembravam as vestimentas usadas pelas atrizes americanas nos filmes de Hollywood e também por Carmem Miranda.

 

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Revista O Cruzeiro – Capa Carmem Miranda

 

 

Penna se inspirou nos filmes de Barbarella e de Theda Bara para compor alguns de seus desenhos de moda.

 

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Filme Barbarella – 1968 (Jane Fonda)

 

 

Além do estilo anos 50 em seus figurinos ele também usava muitos decotes, recortes, peles nuas, abertas ao sol, no eterno jogo de mostrar e esconder.

Os seus desfiles para a multinacional francesa Rhodia no Brasil tinham muito de brasilidade, com muitas cores. O estilista era conectado com a contra cultura e outros movimentos de vanguarda, como a Pop Art.

 

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Vestido de Alceu Penna para a coleção da empresa

 

 

Rhodia no Brasil (1959)

Penna desenvolvia seus desenhos influenciados pela arte de seu País e escrevia em sua coluna: “As Garotas do Alceu”, para a revista semanal O Cruzeiro.

A revista circulou durante 37 anos ininterruptamente e transformou-o num dos nomes mais conhecidos da imprensa brasileira. O último número publicado foi em maio de 1975 e depois com o novo dono, encerrou no ano de 1980, quando parou de circular definitivamente.

Na época, as mulheres copiavam os seus modelos, porque ele tinha a capacidade de informar ao leitor em poucas palavras e pelo seu desenho, qual o tipo de tecido usado pelas “Garotas do Alceu”.

 

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As Garotas de Alceu, na revista O Cruzeiro

 

 

As costureiras do Brasil compravam a revista, copiavam e depois costuravam os modelos das suas roupas para as suas clientes.

Penna faleceu quando a obra “O Menino Maluquinho”, de Ziraldo, foi publicada pelo cartunista, que o admirava muito.

A importância dos trabalhos de Alceu Penna se justifica porque o estilista é o um ícone dos anos 40 e 50 no Brasil que influenciou duas gerações de brasileiras, com seu estilo moderno de escrever sobre moda, comportamento e cultura.

Este cartunista, estilista e ilustrador tem sua importância na memória nacional por desenhar e inventar a mulher brasileira de sua época.

 

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Alceu Penna

 

 

Segundo Ziraldo, ele conseguiu interferir na vida e nos hábitos das pessoas deste País, antes do advento da televisão no Brasil.

Penna também escrevia artigos para a revista A Cigarra, dirigidos para o seu público-alvo, a mulher brasileira, jovial, moderna e independente.

O estilista mineiro desenhou muitos figurinos para espetáculos teatrais, bailes de carnaval, concursos de beleza, vestidos de noivas e moda praia.

 

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Estilo moda praia de Alceu Penna

 

Ele era especialista na arte cartunista, figurinista, estilista, artista gráfico e um defensor da emancipação feminina no Brasil, na medida em que, em seus artigos continham sugestões de comportamento para as mulheres. Ele conseguiu conquistar o seu sonho de ser conhecido como o melhor desenhista brasileiro de sua época e também pelos seus figurinos, ao levar a moda brasileira para o exterior. O artista gráfico brasileiro através de seus desenhos representou o universo do jovem brasileiro, destacando-se na revista semanal O Cruzeiro.

 

Referência bibliográfica

1) JUNIOR, Gonçalo. Alceu Penna e as garotas do Brasil: moda e imprensa (1933-1975). Barueri/São Paulo: Amarilys, 2011.

2) PENNA, Gabriela Ordones. Vamos, garotas! Alceu Penna: moda, corpo e emancipação feminina (1938-1957). São Paulo: Annablume, FAPESP, 2010.

Imagens/site:

www.google.com.br – acesso 01/01/2012